Noobs
Migrado das salas de cinema, este público quer conhecer melhor os personagens vistos nas telonas, porém sua peregrinação pelos quadrinhos não é perene - não tendo contato com boas histórias atuais, invariavelmente retorna a suas sessões de Netflix, Steam e controles de PS4. Apesar disso, devido a sua incursão pelo mundo dos quadrinhos, sente-se na obrigação de destilar conhecimento em fóruns de comentários e diante dos amigos entusiastas dos heróis apenas pela tela grande, mas acabam passando vergonha frente a conhecedores de quadrinhos. Membros desta tribo são bem vindos, porém precisam de um guia (aquele colega trintão crescido com os quadrinhos dos anos 80 ou a Vertigo dos 90) que os leve ao longo caminho dos bons quadrinhos publicados, pois só assim poderão apreciar plenamente as nuances e intertextos dos roteiros das adaptações cinematográficas.
Leitores de capa dura
O que essa tribo quer é lombada na estante. Quanto mais
melhor. E se formar um mosaico de ponta-a-ponta, então... Vou
defender a existência deste público, tão responsabilizado por inflacionar o
mercado nacional. Se existem colecionadores de tudo, de
figurinhas a selos, de action-figures
a camisas autografadas de times, relógios de luxo e carros, por que não poderão
existir colecionadores de encadernados? Se leem ou não, se são noobs ou nerds endinheirados, o que importa é que mantém a máquina
funcionando, gerando produtos que se não podem ser consumidos saídos do forno
pela média do consumidor brasileiro, podem ser arrebatados numa promoção maluca
da Amazon ou num sebo qualquer.
Leitores de europeus
No vocabulário desta comunidade as
palavras álbum, volume e periodicidade têm um significado diferente dos de outras
tribos. São leitores acostumados com o estilo linha
clara, com a incerteza quanto a data de lançamento do próximo número, com a
falta de oferta nacional de bandas desenhadas. É o tipo de leitor que sabe o pseudônimo de Jean Giraud. Que acompanha nosso artista brasileiro infiltrado nesse meio, o Leo (Aldebaran). Do tipo que evita que uma mãe presenteie seu filho com Titeuf. (Depois fica arrependido). Não lê Tex, lê Lucky
Luke, não leu Vampirella, leu Barbarella. É capaz de apontar a influência europeia de cada quadrinho seu: fãs de Star Wars, corram! Valérian.
Leitores de tirinhas
Um público mais adulto, alfabetizado
em quadrinhos através das antigas tirinhas dos cadernos de jornais, localizadas em meio a previsões do horóscopo, dicas de culinária e passatempos de xadrez. Conhece Pafúncio, Hagar, Trixie,
achava Laerte o cara, agora acha a cara da tia, e sabe a diferença entre
charge, tira e cartum. Sempre que encontra compra obras do Calvin, Garfield e
Recruta Zero. Já tentou criar sua própria tira na internet, mas foi desestimulado por seu
traço simplório. Atualmente, com a derrocada de seu hobby nas cada vez mais decadentes
páginas de jornais, se contenta com o material digital, pulando de site em site
até encontrar um Malvados, Willtirando ou Linha do Trem. Ainda tem tirinhas
recortadas de velhos jornais, e lembra nostálgico de quanto espaço dedicavam a este pedaço da nona arte.
Leitores de velharia
Parou de ler quadrinhos regularmente quando a Editora Abril relançou os títulos Marvel e DC pela linha Premium e depois não voltou mais. Apesar disso, ainda tem umas caixas de formatinhos diversos e quando bate um saudosismo se vê relendo as seções de cartas dos leitores e notas de rodapé do Jotapê. Já tentou ler em formato americano, mas nunca se acostumou com o desenho maior, o papel esquisito e a colorização digital. É capaz de dizer de cor as composições dos mix de cada número da Superamigos e Superaventuras Marvel e reconhece pelo traço cada artista dos anos 80/90. Sempre compara as histórias atuais com as histórias de Frank Miller, Walter Simonson, John Byrne e Chris Claremont. Dinossauro clássico, corrige noobs, desdenha capa-duras e vê com desprezo as adaptações cinematográficas. E, por fim, não entende como Liefeld ficou multimilionário.
ED
Seus leitores preferidos são os leitores de scans, principalmente o CDisplay.
1 comentários:
Texto genial
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