parte 1 aqui
Milo Manara, Paolo Serpieri, Guido Crepax, o nosso Carlos Zéfiro, só pra citar alguns nomes, foram os responsáveis por fazer muito brucutu adulto ler quadrinho. Suas obras, de reconhecido teor educativo, nos trazem valiosas lições de anatomia de personagens, uma deficiência visível em muitos desenhistas. Os membros desta tribo de leitores têm como ideal de mulher a Valentina de Crepax ou as mulheres de Manara, e seus sonhos de consumo envolvem namorar alguém com a bunda de Druuna ou os peitos da Poderosa. Quando entediados, são vistos folheando mangás nas bancas à caça de um “fan service” casual ou um hentai fora do plástico. Têm em sua coleção várias revistas de Robert Crumb e visitam constantemente o site de Marcatti em busca de novidades. Sei de tudo isso porque pesquisei...
Leitores de Vertigo
Karen Berger, quando deixou a Vertigo há quatro anos, deixou inconsoláveis e quase órfãos milhões de leitores em todo o mundo, que tinham se habituado a duas décadas de ótimos e inteligentes títulos editados por ela e os viam como uma alternativa e porto seguro para o mar de mediocridade que tinha se tornado os quadrinhos mainstream. Os quadrinhos da Vertigo são o sonho de todo leitor: sem censura, anárquicos, cerebrais, sem as aporrinhações que se tornaram marca registrada da Marvel e DC, como mega-sagas, retcons e ressuscitações de personagens. Sua saída, motivada por desmandos hierárquicos e a mão pesada dos produtores de cinema, foi muito sentida, mas deixou a prova de que é possível sim fazer quadrinho complexo e vendável, que não abusa da inteligência do leitor e com tramas que rivalizam com best-sellers da literatura.
Leitores de Star Wars
Eu fiz uma lista só para eles, clique aqui. Os membros dessa tribo acompanham com admirável fidelidade cada produto relacionado à saga de George Lucas (ou da Disney, pois há algum tempo o George não apita em nada na franquia), e os quadrinhos não poderiam ficar de fora. Os títulos atuais estão, nos últimos anos, com presença assegurada em listas de quadrinhos mais vendidos - consta que o primeiro número do atual título principal vendeu mais de um milhão de exemplares só nos EUA. Este é um público formado predominantemente por fãs dos filmes e/ou praticantes de cosplay, com as caracterizações de Darth Vader, Princesa Léia, Luke Skywalker e seus onipresentes sabres de luz sendo figurinhas recorrentes em encontros e convenções.
Leitores de Asterix
Asterix é uma deliciosa aula de história
em quadrinhos, e eu disse “aula de História”. Surpreende como uma trama passada
há 50 anos antes de Cristo, no norte da antiga Gália, repleto de referências
históricas e com um humor tipicamente francês, que mescla minúcias políticas,
trocadilhos linguísticos e metalinguagem, foi amplamente abraçada por leitores
de todo o mundo durante os lançamentos dos atuais trinta e quatro álbuns lançados
no decorrer de sessenta anos, gerando um assombroso número de 350 milhões de
exemplares vendidos. Os leitores de Asterix por vezes têm que se deter em um
quadro a fim de absorver a ironia ou a complexidade do que se passa em
cenas aparentemente inocentes e casuais, na maioria das vezes envolvendo
romanos e figuras históricas como César e Cleópatra.
Inquestionável patrimônio nacional, as histórias da Turma da Mônica são publicadas ininterruptamente desde 1959 (a partir das tiras de Bidu e Franjinha), com dezenas de títulos lotando as bancas de revistas e bibliotecas. Produzidas em escala industrial e sob o olhar vigilante do seu criador, Mauricio de Sousa, as revistas se transformaram em recurso de iniciação à leitura para milhões de crianças Brasil afora (não só em português, como também em outras línguas - exemplo da revista Monica's Gang que foi lançada regularmente no Brasil). Nos últimos anos, o produto foi turbinado com versões em mangá e com publicações em formato graphic novel produzidas por talentosos artistas nacionais.
ED
White man came across the sea / He brought us pain and
misery / He killed our tribes, he killed our creed / He took our game for his
own need (Iron Maiden).
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