Akim era
uma revista em preto e branco a la fumetti que era ruim de dar dó.
Mal desenhada, com histórias simplérrimas e sem grandes atrativos, vez ou outra
em minhas andanças pelos sebos uma revista dessas caía em minhas mãos como
sobra de negociação (como eram baratas, elas serviam como troco em troca-troca
de HQs, tipo troco em bala, entende?). Cópia descarada de Tarzan, com direito
até a diálogo com animais, as histórias eram um samba do crioulo doido,
geralmente envolvendo robôs, feiticeiros, alienígenas e tudo o que você pode
imaginar numa história só. As anatomias dos personagens eram tão mal-feitas que
me incentivaram a também desenhar (afinal, se aquilo podia ser publicado, por
que não os meus desenhos; e com efeito, o fiz – desenhar, não publicar.). De
uma coisa me lembro claramente: as histórias tinham ritmo, eram gostosas de
acompanhar, independente do traço e do roteiro simplório. Como geralmente era
uma história por edição com mais ou menos umas cem páginas, ao final
aquele hot-dog literário satisfazia minha fome adolescente por
quadrinhos. Sobravam algumas páginas finais preenchidas por histórias
igualmente vagabundas de autores nacionais. Bons tempos aqueles. Hoje não tenho
nenhum exemplar em mãos - era lendo e repassando, o mais rápido possível. Ainda
passo num sebo e tento achar uma.
Um plot twist a cada duas páginas, um assassinato a cada quatro. Assim é a revista fumetto Diabolik, um vilão extremamente astucioso, dissimulado, frio e calculista que não exita em eliminar quem quer que seja para atingir seus objetivos. Vejam bem, eu disse “vilão”, no sentido estrito da palavra, não anti-herói, antagonista ou variações do tipo. Não demonstrava emoções: sua face era a mais impassível possível. Aliás, o personagem tinha várias, pois era o rei dos disfarces, deixando o leitor desconfiado de absolutamente todos da trama. O enredo das tramas era tão bem escrito e de um roteiro tão engenhoso que o leitor ficava imaginando onde aquilo iria findar. E as conclusões eram sempre à altura da história. Apesar de nenhuma morte ou ato de violência ser de forma gratuita, e sim dentro do contexto, as duas irmãs criadoras do personagem tiveram que dar explicações à policia italiana sobre suposta apologia ao crime. O personagem tem filme, tem desenho, tem documentário, e se procurar pode ter até game baseado na obra, só não tem revista sendo publicada no Brasil... Li muito na adolescência, não me transformou em nenhum criminoso ou assassino.
Mister No é safo. Mister No é legal. Mister No é o cara que você gostaria de ter como amigo. O mais brasileiro dos personagens de quadrinhos italianos, fugiu da Segunda Guerra e adotou Manaus como lar e ponto de partida para as viagens pela América do Sul e terras tupiniquins, oferecendo suas habilidades de aviador pilotando para quem pagar mais. Amante de uma boa rede, uma boa cachaça e um bom par de pernas, dá um boi pra não entrar numa briga e uma fazenda pra não sair dela, sendo capaz de qualquer coisa pra defender os amigos e corrigir injustiças. Lutador mediano, não se dobra facilmente, mesmo mediante duras surras (daí seu nome, que quer dizer “Senhor Não”). Fiel e companheiro, trapaceiro e desenvolto, sua sina é sempre estar no lugar errado na hora errada. Ler Mister No é um mergulho quase idílico pelo interior sul-americano da metade do século passado, com seus povoados miseráveis, vielas e barracos de madeira, matas fechadas escondendo índios, cangaceiros, bandeirantes, traficantes, rotas de contrabando. É quase uma aula de geografia e história; uma obra de Jorge Amado feita com nanquim. Um de meus personagens preferidos de todos os tempos.
ED
Depois que aprendeu que fumetto (plural: fumetti) é o nome pelo qual é conhecido o quadrinho italiano, não diz mais "quadrinho italiano". E considera a sequência de histórias publicadas na revista Tex números 244 a 249 entre as melhores coisas que já leu na vida.
ED
Depois que aprendeu que fumetto (plural: fumetti) é o nome pelo qual é conhecido o quadrinho italiano, não diz mais "quadrinho italiano". E considera a sequência de histórias publicadas na revista Tex números 244 a 249 entre as melhores coisas que já leu na vida.
0 comentários:
Postar um comentário