Peter Parker: Spider-Man 55 - Francisco Herrera
Antes de discutirmos a guerra dos sexos que se tornou as capas de quadrinhos, precisamos falar disso aqui. Afinal,
estilo é algo mais palpável de se falar. Tente decifrar esta figura ao lado; o
que parece? Tudo menos o nosso velho amigão da vizinhança, não? O site Screenrat descreve que parece “menos como uma pessoa e mais como uma serra elétrica
humana que foi montada por uma pessoa que é terrível com quebra-cabeças” e enxerga
até um focinho de porco dentro das calças do nosso herói (eu enxergo uma
gárgula). Se isso fosse publicado nos anos 90 faria os desenhos do Rob Liefeld
parecerem obra de arte. Tive que virar a imagem de ponta-cabeça para poder ter
uma ideia aproximada do que ela quer mostrar, e o resultado me pareceu igualmente
catastrófico. Talvez seja obra de um gênio incompreendido que só terá reconhecimento no futuro, afinal o autor carrega o mesmo nome de um pintor
espanhol muito famoso.
Batgirl Endgame 1 - Rafael Albuquerque
Se lembram da capa da Batgirl 41 cancelada? A
capa ao lado é uma óbvia sequência da capa censurada, e
nada diferente do que seria esperado, como sempre foi nos quadrinhos, o bem
prevalecendo sobre o mal. É necessária aqui uma contextualização, afinal quem pegue o bonde andando pode interpretar a imagem ao lado
como a de uma mulher simplesmente borrando um batom (na verdade, está limpando
o batom, que não é dela, enfim...). A pessoa atrás do uniforme foi barbarizada (com o perdão do
trocadilho, entendedores entenderão) pelo Coringa e sua gangue na clássica
história A Piada Mortal. Ficou paraplégica, se recuperou, enquanto cadeirante
se tornou a mulher mais conectada e informada de Gotham City, assessorando praticamente
todos os heróis da DC, até voltar a andar e se tornar a Batgirl. História de superação não ameniza a violência, mas afinal estamos tratando de histórias de
criminosos - que cometem crime, não?
Catwoman 1 [capa editada] - Guillem March
Sério que ainda insistem em poses
“brokeback” (ou combos "Boobs & Butt") em pleno século 21? A não ser que se trate de algo deliberadamente
pensado como forma de lucrar fazendo polêmica ou provocar discussões artístico-filosóficas
das mais diversas, este tipo de imagem com o misterioso dom de
mostrar peitos e bunda numa mesma pose (!) só me remete aos famigerados anos
noventa (de novo), com as pernas de dois metros da Psylocke do Jim Lee ou as
poses do Gen 13 de Scott Campbell. São poses irrealistas, ninguém se mantém ou
se move nestas posições (quer dizer, tem as contorcionistas do Cirque du Soleil,
mas acho que elas não são humanas). Como pontuou a Aline Valek: "[...] aparentemente, o que importa em uma personagem mulher são os pares de seios e
nádegas. Então, se for socar alguns bandidos, empina a bunda, colega!" A capa ao lado foi posteriormente refeita, mas a abundância de exemplos persiste.
Wonder-Woman 49 [capa editada] - David Finch
Às vezes os editores pecam por
excesso ao se render ao politicamente correto e subtraem as características que
se tornaram icônicas em determinada personagem. Neste caso aqui, a DC achou que
o short curto da Mulher-Maravilha poderia denotar uma suposta hipersexualização
e encheram tanto a mulher de adereços que ficou parecendo tudo - alegoria
de carnaval, uniforme militar - menos com trajes de uma guerreira amazona. No
fim, após um mês, se renderam ao bom senso e voltaram com o traje original da personagem na capa. Mas este tipo de polêmica é do tipo bumerangue: periodicamente vai e volta. Recentemente, em resposta a um grupo de funcionárias da ONU que protestavam pela indicação da heroína como Embaixadora Honorária, incluindo fazendo uma petição contrária, Gal Gadot disse, em entrevista à revista Time: " "Há tantas coisas horríveis
acontecendo no mundo e é contra isso que vocês estão protestando?"
Mockinbird 8 - Joëlle Jones
Um título de quadrinhos que não
vendia nada, apesar de escrito por uma mulher - Chelsea Cain - com larga
carreira literária, cujas histórias continham sutis críticas ao machismo, foi
cancelado com a capa do último número estampando a seguinte mensagem: “pergunte-me
sobre minha agenda feminista”. Concomitantemente, tinha anunciado no twitter: “Mockingbird está cancelada. Mas nós
precisamos garantir que a @Marvel abra espaço para mais títulos feito por mulheres
com mulheres chutando bundas.” Não preciso descrever a onda de ódio atraída para seu post, com ameaças das mais diversas, divulgação do seu endereço
pessoal e consequente cancelamento do seu perfil na rede. Aí me dá vontade de
divagar sobre sexismo, misoginia, misandria, reparação histórica, disseminação
de ódio, enfim, discutir o sexo dos anjos, mas encerro aqui pois a patroa acaba de disser que vai permitir as caixas de HQs no quarto.
ED
Foi obrigado pela esposa a passar-lhe o texto para revisão, e teve vários trechos censurad...
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