1. Kick-Ass - Quebrando tudo (2010)
Quando Dave Lizewski decide se tornar um herói no início de Kick-Ass (2010), me surpreendi tendo a mesma empolgação de quando Parker descobriu seus poderes pela primeira vez no filme Homem-Aranha de 2002. Não esperava que outro filme fosse capaz de tal feito: o filme do Aranha foi marcante pra mim, primeiro por se tratar de um sonho de infância realizado, segundo pelo sucesso da adaptação; ainda escrevo um post sobre a peleja que era pra conseguir assistir a este filme. Enfim, Kick-Ass me levou de volta àquela época, depois sua brutalidade me jogou violentamente ao presente, em seguida Hit-Girl me fascinou e chocou ao mesmo tempo... Kick-Ass entrará pra história como o filme que elevou as adaptações de quadrinhos a outro nível, abrindo caminho pra produtos como Deadpool e Velho Logan terem o grau de liberdade que estas obras pedem. E tem uma cena ao som de Gnarls Barkley que sempre me anima.
2. Sin City - A Cidade do Pecado (2005)
Poucos filmes podem se orgulhar de ter inaugurado uma nova estética, e Sin City (2005) é um deles. Apesar de seu estilo de filmagem ter sido ensaiado algumas vezes anteriormente (até em clipes, como "Celebrate Youth", de Rick Springfield), foi nesta adaptação que ela encontrou seu lugar ao sol. Nem precisava disso para o sucesso: era um produto feito a seis mãos entre Robert Rodriguez, Quentin Tarantino e Frank Miller mais um elenco estelar, ou seja, impossível dar errado. É difícil ver Sin City e não querer assistir novamente, deslumbrado com os diálogos ácidos e quase bregas - criados por Miller em pleno auge criativo - e com o visual chapado de preto e branco com pitadas de amarelo e vermelho aqui e ali. A "estética Sin City" foi posteriormente adotada nos filmes Spirit, 300, em sua própria continuação e inúmeros outros vídeos por aí, com variações aqui e ali, o que só denota seu pioneirismo.
3. Scott Pilgrim contra o Mundo (2010)
Scott Pilgrim contra o Mundo (2010) é a mais perfeita comunhão entre filme, música, quadrinhos e videogame já filmada, ou seja, um produto que sintetiza os objetos culturais icônicos da nossa geração. Não precisa ler o mangá: se veja perguntando no decorrer do filme sobre quem será o próximo chefão, digo, namorado de Ramona e quais serão os poderes a serem superados pelo personagem do ator supremo dos nerds Michael Cera (Superbad, Juno) no próximo round, digo, cena de luta (e torça pra nenhum deles ser o cara que viveu o Tocha Humana/Capitão América nos cinemas). Não importa quantos anos tenha, abra sua mente e volte à adolescência espinhenta com esta comédia romântica sem igual na sétima arte, uma bobagem divertida com personagens carismáticos, roteiro ágil (Edgar Wright, de O Homem-Formiga), efeitos geniais e aquelas músicas que vão grudar feito chiclete em seu ouvido.
4. Hellboy (2004)
Quem é entendido no universo nerd sabe que há alguns produtos da cultura pop que viraram lenda pelas circunstâncias de sua (não) concretização, como o Super-Homem de Nicolas Cage, o lançamento de Half-Life 3 e até o sexto volume de Game of Thrones. Lembrem que uma rápida pesquisa na web mostrará que a lenda do filme “Hellboy 3” persiste, e uma base fiel de fãs implora pelo seu lançamento, sempre esperançosos de uma terceira incursão de Ron Perlman na pele (pele?) do demônio de chifres serrados. Isso se deve ao sensacional primeiro filme (de 2004), uma película divertidíssima e envolvente, com um equilíbrio de ação e humor raramente atingido pelas adaptações cinematográficas de HQs. Hellboy é a mais bem feita adaptação de quadrinhos do estúdio Sony (sim, considero aqui o primeiro Homem-Aranha), e Perlman quiçá a mais fiel adaptação de um personagem de quadrinho no cinema.
5. Oldboy (2003)
Oldboy fundiu minha cabeça quando de sua (já notória) reviravolta. Sim, me preparei pra toda a estética da violência coreana, acompanhei atentamente o intrigante desenrolar do roteiro, mas aquela revelação ao final impressionou tanto que me remeteu aos filmes de Shyamalan - especialmente O Sexto Sentido -, só havendo igual correspondência em matéria de impacto emocional anos depois com o filme O Predestinado (2014). Oldboy é cruel, não é pra todos os públicos (daí sua essência cult) e seu remake americano não chega aos pés da mosca que pousou no set do filme original, apesar de ter sido o burburinho em torno desse outrora desconhecido filme que despertou a atenção de Hollywood. A superestimada cena de luta no corredor mostrada no seriado do Demolidor, claramente chupinhada, mostrou que não foi só o fator originalidade que brilhou em Oldboy, mas a competência da execução.
6. Ghost World - Aprendendo a Viver (2001)
Quando Ghost World foi lançado em
outubro de 2001, passou quase despercebido pelos circuitos de cinema afora,
amargando certo prejuízo e uma fraca bilheteria, talvez causado pelo pessimismo
generalizado pós 11 de setembro. Com o passar dos anos, esta espécie de slice-of-life americano
foi angariando fãs nas locadoras estadunidenses e semeando uma aura cult, o que
levou às distribuidoras a trazer o desconhecido mas premiado filme para o
Brasil. Sua trama, cujos atores eram uma ainda quase anônima Scarlett Johansson,
a genialmente contida Thora Birch (de Beleza Americana) e o
dispensa-apresentações Steve Buscemi, envolve essencialmente descobertas
adolescentes, idiossincrasias da meia-idade, crise de identidade e cultura
alternativa. O diretor Terry Zwigoff conhece muito bem a cena underground,
inclusive já tendo feito um ótimo documentário sobre Crumb. Atente para a
trilha sonora do filme, contendo uma música inesquecível do Mohammed
Rafi.
7. Marcas da Violência (2005)
A HQ A History of Violence que o filme adaptou foi lançada em 1997 pela DC através de um dos seus selos, a Paradox Press (porque em algum momento a DC passou a se achar muito infantil para colar sua imagem a histórias cerebrais e mais maduras). O roteiro, de John Wagner, narra a história de um pacato pai de família que, ao se defender de um assalto a sua lanchonete, se torna notório na cidadezinha, tem sua vida exposta e acaba atraindo uns mafiosos bem barra-pesada que insistem em afirmar que o conhecem de longa data, o que deixa todos com uma pulga atrás da orelha. A adaptação no cinema, com direção de David Cronenberg, é aquele tipo de filme meio intimista, perfeito para uma tarde chuvosa, contido, sem excessos ou firulas a la Joss Whedon nem grandes afetações, um filme clean, honesto. Viggo Mortensen está genial.
8. Estrada para Perdição (2002)
O simples ato de se esconder no carro do pai se transforma num inferno quando o pequeno Michael Jr. presencia um assassinato e se torna alvo dos perigosos mafiosos que outrora acompanhavam seu pai. Publicado pela Paradox Press (eu falei), esta HQ foi adaptada por Sam Mendes (com apenas um trabalho no currículo: Beleza Americana) atendendo a um conselho do mestre Spielberg (“isso daria um bom filme”). Com um respeitável elenco, composto por Tom Hanks, Paul Newman, Daniel Graig, Stanley Tucci e Jude Law, ganhou vários prêmios incluindo um Oscar de melhor fotografia (sim, adaptações de quadrinhos ganhando Oscar). Um filme enxuto, noir, sem tendência pra grandiloquências, mais lento do que sua contraparte nos quadrinhos. Um bom representante de "filme de máfia" na cada vez mais crescente lista de adaptações de quadrinhos.
9. 30 Dias de Noite (2007)
Está eu na locadora (local onde se alugavam filmes), procurando um filminho com cenário de neve - existe uma categoria numerosa de cinéfilos com este fetiche-, quando na “seção de terror” me deparo com duas produções, Terror na Antártida e 30 Dias de Noite. Leio as descrições e percebo que ambas se tratavam de adaptações de quadrinhos, ambas passados na neve; qual escolher? Convenhamos, como resistir a um filme chamado 30 Dias de Noite? Ao final, ainda atordoado com a tensão de algumas cenas (inclusive uma na qual um personagem faz uma besteira e dá uma justificativa tão óbvia e contundente que cala qualquer argumento em contrário), tive a constatação de que tinha assistido a um dos melhores filmes de vampiro do cinema. Tem o Josh Hartnett, mas me tornei fã do Ben Foster, um ator que rouba qualquer cena. Fuja da continuação.
10. O Procurado (2008)
Bem, não há muito o que falar da história de O Procurado e suas famigeradas balas que fazem curva, então vou falar sobre o autor da HQ que deu origem ao filme. Quer dar um tempo da tonelada de filmes que ou mostram a Jornada do Herói (narrativa incorporada na “Fórmula Marvel”) ou são pretensiosos até a alma, porém sem dizer coisa alguma (filmes da DC pré - Wonder Woman)? Assista uma adaptação cinematográfica de um quadrinho de Mark Millar. É diversão a cada frame. O cara tem a mão sobre seus filmes, já escreve suas HQs pensando em adaptação para a telona e o ritmo empregado é algo sui generis nos filmes de ação. Se fôssemos fazer uma analogia de estilos, diria que Millar é o nosso Quentin Tarantino dos quadrinhos. Ainda não esqueço as antológicas páginas finais do quadrinho de O Procurado, um soco no estômago do leitor que no fundo inocentemente supõe que todo escritor “agradece a leitura” de sua obra.
11. Expresso do Amanhã (2013)
Expresso do Amanhã é um filme de ambiente fechado (no caso, um trem), onde se eu fosse descrever a sinopse do ponto de vista ideológico seria mais ou menos assim: “a luta do proletariado para ter acesso à elite e aos meios de produção”. Só que no caso aqui, a ascensão não ocorre da forma vertical tradicional e sim horizontal, com a classe dominante ocupando os primeiros vagões do trem. Em suma, um filme inteligente, tenso, delicioso de assistir e, arrisco dizer, melhor que o quadrinho francês (O Perfuraneve) tomado por base. A despeito de ser um thriller dos mais corridos (literalmente), há diversas soluções criativas e entrelinhas estranhas ao universo hollywoodiano, relativas a aquecimento global, trabalho infantil, messianismo - apenas para citar algumas -, cujos méritos se devem ao diretor sul-coreano Bong Joo Ho, que se tornou conhecido aqui no ocidente por O Hospedeiro (2006).
12. Kingsman - Serviço Secreto (2014)
Quando Kingsman foi anunciado, confesso que não depositei muita confiança no sucesso do filme, seja pela dupla de atores protagonistas escolhidos, pelo geek meio estranho vivido pelo Samuel L. Jackson, pelo desconhecimento desta HQ de Mark Millar - The Secret Service - que serviu de fonte ou pela saturação de adaptações de quadrinhos. Depois, quando Kingsman foi assistido, eu estava tão embasbacado que agradeci à onda de adaptações de quadrinhos que permitiram manter o hype em cima dos investidores de Hollywood e desta forma gerar um cenário favorável pra bancar obras anárquicas como essa. São filmes assim que revigoram minha esperança no cinema, que no quesito “inovação e criatividade” há algum tempo vem tomando um baile da TV e dos serviços de streaming. Enfim, Kingsman é pra ser assistido no cinema, tela grande, pipoca na mão e rindo dos comentários da turma do fundão.
Dados os devidos créditos aos filmes de Blade, podemos dizer que X-Men - O Filme, dirigido por Bryan Singer, é a pedra fundamental da onda de adaptações de quadrinhos que surgiu no início do milênio pelo fato de ser um filme genuinamente de “super-heróis”, tema marcante desta nova leva (nós conhecedores sabemos que há uma tonelada de adaptações de quadrinhos que não tratam de super-heroísmo). Temos que reconhecer que, independente da qualidade irregular e cronologia confusa que posteriormente estigmatizaram a franquia, este filme foi correto (esta é a palavra!) na sua proposta e execução, estabelecendo as origens do grupo de mutantes e surpreendendo com caracterizações que nunca imaginamos possíveis de personagens como Wolverine (por Hugh Jackman) e Professor X (por Patrick Steward). As visões de mundo de Xavier e Magneto rendem fácil uma tese de doutorado.
14. Homem-Aranha (2002)
Depois de X-Men, Homem-Aranha foi o responsável por consolidar a onda de filmes de super-heróis que viria depois. Sou testemunha ocular da febre que foi este filme na época, afinal um filme satisfatório do Homem-Aranha era aguardado há décadas e digamos, havia uma “demanda reprimida” acumulada. Ingressos se esgotavam em minutos e a peregrinação para assistir aonde tivesse sendo exibido era uma constante; quando se conseguia entrar na sala de cinema, havia gente sentada até no piso entre as fileiras lotadas! Só havia visto algo do tipo em 1997 (Titanic), e creio que, considerando as trocentas alternativas de se assistir um filme atualmente, dificilmente voltaremos a ver algo igual. A sequência na qual o jovem Peter (Tobey Maguire) descobre seus poderes é emocionante e, como um bom fã que cresceu lendo os quadrinhos do aracnídeo, me faz arrepiar os cabelinhos dos braços até hoje.
15. Batman - O Cavaleiro das Trevas (2008)
Não sou muito fã da trilogia de Nolan nem do Christian Bale como Batman (explico a seguir), da qual O Cavaleiro das Trevas é o segundo filme. Mas considerando que esta não é uma lista dos meus filmes preferidos e sim dos filmes que estabeleceram o gênero de super-heróis no cinema neste século, tenho que admitir que: 1º: esta adaptação trouxe um esmero e profundidade que estava faltando ao gênero; 2º: teve a audácia de trazer um Coringa “canto do cisne” de Heath ledger que rivaliza em atuação com o palhaço seminal de Jack Nicholson; 3º e talvez mais importante: é um filme muito palatável e absorvido pelo público civil (leia-se: público que não lê quadrinhos mas vai ao cinema) e pela legião de críticos. Voltando ao início, apesar de considerar o Bale um ótimo ator (e que se entrega ao papel), nunca o achei com o perfil físico nem expressão adequada a um Bruce Wayne. É uma preferência.
16. Vingadores (2012)
Vingadores (de Joss Whedon) está na lista porque - e nem vou citar questões de bilheteria - o filme dos Vingadores estabeleceu uma nova forma de fazer cinema e “fabricar” sucessos: trabalhando previamente cada um dos seus personagens em produções solo e reunindo-os de forma a atrair toda a base de fãs conquistada. Esta fórmula foi posteriormente copiada pela Netflix com a construção dos Defensores e (pasmem!) até pelo cult diretor indiano M. Night Shyamalan com o filme Split (“Fragmentado”) resgatando o filme Unbreakable (“Inquebrável”, traduzido como Corpo Fechado no Brasil) para reuni-los, heróis e vilões, no ainda vindouro Glass (previsto para 2019). Ou seja, Vingadores deu uma aula de cinema, chegando a fazer a terceira maior bilheteria da história do cinema (atrás de Titanic e Avatar) com uma produção divertida e que fez a alegria de nerds.
17. Deadpool (2016)
Deadpool, magnum opus da Fox em adaptações de HQs, fez escola ao provar que filme de quadrinho de super-herói pode conjugar na mesma frase ter alta classificação indicativa e alcançar enorme bilheteria, algo inimaginável para os produtores até então, abrindo caminho para que adaptações carregadas de violência e humor negro ganhassem aval para serem realizadas, resultando em pérolas como, por exemplo, Logan (2017). Neste momento lembremos que já tínhamos nos chocado com a violência de Kick-Ass (2010), porém Deadpool foi mais ousado ao abraçar a classificação indicativa mais restrita dos EUA e fazer disso sua propaganda e diferencial frente aos demais filmes. Méritos a Ryan Reynolds, que insistiu no seu personagem de “X-Men Origens: Wolverine” e, assim como a Fox - detentora das franquias de Quarteto Fantástico e X-Men no cinema -, estavam até o momento apanhando repetidamente da crítica e do público devido aos seus trabalhos relacionados a quadrinhos.
18. Atômica (2017)
Muito se fala da mensagem de empoderamento trazida por Mulher-Maravilha, ou do uso inteligente da música em Baby Driver - dois filmes que despontam entre os melhores do ano. Mas Atômica, adaptação da HQ The Coldest City (2012), traz estes e outros trunfos que, na minha opinião, a igualam com Logan como a melhor adaptação de quadrinhos em 2017. O elenco de estrelas - composto da oscarizada Charlize Theron (Monster), do ator do ano James McAvoy (Fragmentado), do cada vez melhor John Goodman (Rua Cloverfield, 10), de Toby Jones (nunca fez um filme ruim) e do fenômeno Bill Skarsgård (o Pennywise, de It), - aliado a uma impecável trilha oitentista, mais a melhor cena de luta do ano (talvez a de sexo também), diálogos espirituosos, referências culturais (como uma luta com imagens de Stalker, de Tarkovski, em segundo plano, e até mesmo o game do Mario), históricas (Muro de Berlim), o permanente clima de intriga e espionagem e um terceiro ato que não decresce (como ocorreu com Logan e Mulher Maravilha) fazem desta uma das adaptações de quadrinhos mais ousadas já lançadas.
ED
Se vale a pena ver de novo, vale a pena ler de novo.
Muito se fala da mensagem de empoderamento trazida por Mulher-Maravilha, ou do uso inteligente da música em Baby Driver - dois filmes que despontam entre os melhores do ano. Mas Atômica, adaptação da HQ The Coldest City (2012), traz estes e outros trunfos que, na minha opinião, a igualam com Logan como a melhor adaptação de quadrinhos em 2017. O elenco de estrelas - composto da oscarizada Charlize Theron (Monster), do ator do ano James McAvoy (Fragmentado), do cada vez melhor John Goodman (Rua Cloverfield, 10), de Toby Jones (nunca fez um filme ruim) e do fenômeno Bill Skarsgård (o Pennywise, de It), - aliado a uma impecável trilha oitentista, mais a melhor cena de luta do ano (talvez a de sexo também), diálogos espirituosos, referências culturais (como uma luta com imagens de Stalker, de Tarkovski, em segundo plano, e até mesmo o game do Mario), históricas (Muro de Berlim), o permanente clima de intriga e espionagem e um terceiro ato que não decresce (como ocorreu com Logan e Mulher Maravilha) fazem desta uma das adaptações de quadrinhos mais ousadas já lançadas.
ED
Se vale a pena ver de novo, vale a pena ler de novo.
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