Digite “Donald Duck” no Google; a
primeira palavra que segue é angry
(irritado). Por aí já dá pra se ter uma ideia do temperamento deste genial
personagem, cujas características e perfil, a despeito de - a princípio - atender
ao público infanto-juvenil, o fazem ser um dos ícones mais humanos da cultura
pop mundial. Crítico, mal-humorado, atrapalhado, ingênuo, mas também amoroso, confiável,
obstinado e romântico, sempre às turras com sua família, este verdadeiro achado
da Disney ditou influência para inúmeros personagens
do entretenimento que viriam a ser criados no século passado. Ler Pato Donald é
como acompanhar as desventuras de alguém tão próximo e familiar que sabemos exatamente
o que ele irá falar ou agir diante de determinadas situações. Dá até pra ouvir sua voz estridente!, está ouvindo? Uma aula de personagem.
Empoderamento feminino é tão século
21, não? Pois saiba que Mônica sabe o que é isso desde 1963, quando surgiu para
se tornar, quiçá, o maior personagem da cultura brasileira. Vítima de (por que
não dizer) bullying por sua estatura, arcada dentária e circunferência corporal, tendo repetidas vezes seu coelho de pelúcia arrebatado para
posteriormente reaparecer com um apertado nó nas orelhas, nunca correu para as
saias da mãe e sempre procurou seus (por que não dizer) agressores para tirar
satisfações e dar-lhes uma merecida lição, sem nunca guardar rancor e mantendo
os laços de amizade. Posto desta forma tudo pareceria um drama de violência mútua não fosse o fato das histórias sempre evidenciarem a inocência e pureza das
crianças, aliado ao olhar vigilante de Mauricio de Sousa sobre a caracterização dos
personagens.
Calvin e Haroldo é leitura
obrigatória para qualquer leitor de quadrinhos. Não, é leitura obrigatória para
qualquer leitor. Melhor, pra qualquer ser humano. Só fui perceber que na
verdade Haroldo era um tigre de pelúcia e que toda sua interação não passava de
fruto da condição (?) do Calvin após muitas leituras e de ter me apaixonado pelos
personagens e pela criatividade das histórias e situações. Foi um choque, que
creio não ter me recuperado totalmente e que trouxe junto uma sensação estranha
mediante as leituras e releituras posteriores. A tirinha feita por um fã no
qual o Haroldo desaparece é de um simbolismo tão profundo e de uma verdade tão
chocante que rivaliza com qualquer tratado de filosofia ou romance russo de mil
páginas, sendo considerada a tira mais triste de todos os tempos.
Mafalda é uma personagem cujas
histórias não sobreviveriam incólumes a um regime ditatorial ou repressivo,
dada a acidez de seus diálogos e a crítica sempre afinada e ao mesmo tempo ingênua
à vida como ela é, ao funcionamento do mundo e á humanidade como um todo. Dê
Mafalda para seu filho, e estará ensaiando a formação de um cidadão crítico e
autocrítico com uma visão mais rica e questionadora do que o cerca. Repleto de
jogos de palavras, diálogos espirituosos e perguntas inusitadas, as frases e
pensamentos de Mafalda dariam um livro á parte, e justificam sua posição como
um dos ícones mais fortes da cultura sul-americana. Consta que as histórias de Mafalda nunca foram
publicadas nos Estados Unidos, o que pode nos dizer muito sobre o solipsismo cultural estadunidense. Ou não.
Quem é mais famoso, Bolinha ou
Luluzinha? Se no que diz respeito ao universo de Mauricio de Souza a Mônica
sempre obteve um leve destaque sobre os outros personagens,
incluindo o Cebolinha, e na Disney o Pato Donald nunca foi ameaçado em
popularidade pela Margarida e Cia. (talvez pelo Mickey, mas isso dá uma longa
conversa), no panorama criado por Marge os dois personagens sempre tiveram
histórias tão bem executadas que quaisquer questionamentos de gêneros caiam por
terra diante da genialidade dos roteiros e do ritmo nunca cansativo que sempre
caracterizou as histórias dos dois personagens. E a trupe de coadjuvantes sempre manteve o nível alto no que tange ás construções de
personagens. Não raro eu apelidava meu amigo almofadinha como Plínio ou o caçula
chato da turma como Alvinho.
ED.
Se pudesse escolher um superpoder escolheria o de voltar no tempo pra reler aqueles quadrinhos com espírito de criança, e desaprender a contar algarismos como fez nesta matéria com a quantidade de personagens.
ED.
Se pudesse escolher um superpoder escolheria o de voltar no tempo pra reler aqueles quadrinhos com espírito de criança, e desaprender a contar algarismos como fez nesta matéria com a quantidade de personagens.
0 comentários:
Postar um comentário