terça-feira, 30 de agosto de 2016

As maiores mortes dos quadrinhos


Atenção: spoilers, muitos spoilers.

A Morte de Elektra
Num exercício de sadismo com os fãs da personagem, Frank Miller resolve dar cabo - literalmente - da namorada-inimiga-parceira do vigilante cego em pleno auge de sua popularidade. E da maneira mais cruel, sem nenhuma pista que preparasse os leitores, trespassada pela própria arma, nas mãos do maior adversário do Demolidor, e peregrinando pra dar o último suspiro nos braços de seu amado. Tão inesperado que o próprio Matt Murdock se recusou a acreditar e quis uma exumação. Inesperado, repentino e dramático: porra, Frank!, não nos lembre como a maioria das pessoas morre. Menos de um ano depois, a personagem teve uma “ressurreição” seguida de um novo “desaparecimento” conduzido de forma convincente por parte do mesmo autor, caso raro em tramas que ressuscitam personagens. 



A Morte de Terra
Tara Markov foi uma personagem marcante na trajetória dos Novos Titãs. Jovem, bonita e dissimulada, conheceu o Exterminador e, orientada por este, estudou cada membro da equipe de heróis, se infiltrando em suas vidas de forma habilmente escrita por Marv Wolfman, tornando-se parte do grupo, para posteriormente subjugar com facilidade um a um. O problema é que ela fez isso também com o próprio leitor, e quando o rumo da trama a levou para um caminho sem volta, dificilmente houve jovem que não sentisse um cisco no olho diante da fatalidade que acometeu esta ambígua personagem. Foi a cereja no bolo da saga O Contrato de Judas, umas das histórias mais bem escritas e desenhadas (George Perez, no auge) de todos os tempos. Num nobre gesto, os heróis preservaram a imagem da ex-heroína, ocultando sua traição.

A Morte do Capitão Marvel
Heróis morrem em luta, heróis morrem em guerra, heróis morrem traiçoeiramente pelas mãos de adversários. Mas quem disse que herói não morre de câncer? O fato de ter derrotado vilões que nenhum outro poderia dar conta sozinho, como o poderoso Thanos, e de ser um dos heróis mais fortes dos quadrinhos não poupou o guerreiro de sucumbir lentamente perante a famigerada doença, acamado numa cama, rodeado por amigos e refletindo sobre sua trajetória. Todos os esforços das maiores mentes do mundo, como Reed Richard, Tony Stark e Doutor Estranho, na tentativa de reverter sua condição foram em vão. Até mesmo um arquiinimigo se solidariza com sua agonia e visível definhamento. Repleta de emoção, simbolismo e frases marcantes, esta é uma história pra quem tem nervos de aço. 


A Morte do Flash (Barry Allen)
Morreu muita-muita gente na seminal saga Crise nas Infinitas Terras, mas podemos seguramente afirmar que a morte mais sentida, impactante e “duradoura” (vocês sabem do que estou falando) foi a do segundo Flash, o Barry Allen. A despeito de meu Flash preferido ter sido justamente o seu substituto (culpa do genial Mark Waid), temos que admitir que seu antecessor tinha a persona exata do ideal de herói, um misto de bom-mocismo e carisma que talvez excedesse até mesmo os dos colegas Hal Jordan e Clark Kent. Talvez por isso tenha sido escolhido como mártir, deste evento que se antigamente eu amava pela qualidade hoje eu desgosto por (junto com Guerras Secretas) estabelecer um padrão mercadológico que há muito já deu no saco: “a melhor saga de todos os tempos da última semana”.

A Morte do Vigilante
Sensíveis, abstenham-se: estamos entrando numa seara raramente abordada nos quadrinhos e cuja temática beira o tabu na sociedade: o suicídio. O que acontece quando alguém tão apegado à justiça e retidão se percebe diante de uma condição injusta e irreversível? O competente Paul Kupperberg nos oferece um verdadeiro thriller policial contando os últimos momentos do promotor Adrian Chase, o típico justiceiro que perdeu tragicamente a família, afeto às classes mais desfavorecidas e imerso num ambiente cíclico de violência e punição. A abordagem aqui é adulta, jovem padawan, pontuada por sexo, violência e questionamentos sociais. Único personagem de quadrinhos detentor de título próprio que deu fim à vida e conseqüentemente, à sua publicação. Nunca citado na cronologia desde então (tabu, lembra?). 

A Morte de Gwen Stacy
Numa época em que as histórias do Homem-Aranha eram sempre alegres, corretas e com final feliz, foi uma surpresa quando uma das personagens mais carismáticas dos quadrinhos - a ponto de deixar a Mary Jane no coadjuvantismo - obteve um fim trágico e abrupto pelas mãos de um vilão que sempre foi fiel saco de pancada, o Duende Verde. Aquilo foi um ponto de ruptura, como se alertasse que anos de dominação do bem sobre o mal foi mantido mais por competência dos heróis do que por falta de vilania nos inimigos. Até hoje a queda da personagem é objeto de (mórbida) análise, pois suspeita-se que a própria teia do Aranha quebrou o pescoço da moça ao interromper a queda (observe a onomatopéia "snap" na cena ao lado). Uma pequena e sutil ironia. Combine a leitura com a igualmente triste A Morte do Capitão Stacy.



A Morte de Gleen
Quem nunca leu Walking Dead ouviu falar da morte de Gleen, quem nunca assistiu também. Presente e ausente nas diferentes mídias que contam a trama, a morte de Gleen virou quase uma lenda na cultura pop, tal a quantidade de vezes que a série televisiva ensaiou sua correspondência com o mesmo evento dos quadrinhos e pelo infame cliffhanger que paira nos atuais sete meses que separam a sexta da sétima temporada, quando a arma que originalmente fatalizou Gleen pode ter fatalizado qualquer outro. Uma morte crua e explícita, ratificando que os walkers não são os verdadeiros inimigos. Ao contrário, são os inocentes. 


A Morte da Fênix
Uma personagem que tem duas facetas e cujo lado sombrio em dado momento prevalece sobre sua contraparte humana e põe a humanidade em perigo. Não, não estou falando da Magia no recém lançado filme do Esquadrão Suicida. Desde que Jean Grey morreu de forma visualmente impactante pelas mãos de Chris Claremont, o mote do herói vilanizado por uma entidade já foi copiado exaustivamente nos quadrinhos, de Ravena (dos Novos Titãs) a Hal Jordan (como Parallax); de Peter Parker/simbionte a Illyana Rasputin (codinome Magia - ei, rola um processo de plágio aqui). Um caso clássico nos quadrinhos de morte “tão bem matada” que o retorno da personagem gera protestos até hoje. 
A Morte do Robin
Sabe esse Coringa do Jared Leto que quiseram nos vender como “mau, muito mau, mas mau do que o Pica-Pau” no filme do Esquadrão Suicida? Deviam trancar os roteiristas e o ator num quarto, botar-lhe um exemplar de Morte em Família (onde ocorre o assassinato do Robin Jason Todd) nas mãos, e junto com alguns exemplares de Piada Mortal e Coringa do Azzarello, mostrar-lhes como se oferece uma história de vilão convincente e que realmente mete medo a quem tá lendo a história ou assistindo a produção. Antes da Lucille do Negan cantar alto em The Walking Dead, Coringa já fazia escola com seu pé de cabra e não deixava nem corpo intacto pra um funeral decente. Um destino coerente com o perfil do personagem, que pecava pela impetuosidade e despojamento com que se atirava aos vilões e às situações adversas.
A Morte do Super-Homem
Esse deu trabalho, e não deveria deixar de ser. Uma morte épica, tudo menos abrupta, suada, martirizada. Uma das manifestações mais retumbantes do que significa o verbo “sucumbir” na ficção. Uma criatura alienígena aparece de repente e começa a destruir tudo e todos que encontra pelo caminho. Simples assim. Sem explicação. Sem grandes dilemas morais. Sem argumentação. Os heróis que vão confrontá-lo caem perante a fúria implacável e desmedida do misterioso ser, convenientemente chamado de Apocalypse, não importa o que façam ou que estratégia utilizem, até a constatação se impor: o ser é indestrutível. A Morte do Super-Homem faz jus ao pomposo nome e realmente entrega uma monumental e grandiosa história de heroísmo e sacrifício. 




ED.
"Eu não sou besta pra tirar onda de herói / Sou vacinado, eu sou cowboy / Cowboy fora da lei / Durango Kid só existe no gibi / E quem quiser que fique aqui / Entrar pra história é com vocês!"

Em tempo: cometi uma omissão imperdoável nesta lista, a chocante morte do Guardião, da Tropa Alfa. Talvez ela tenha sido tão traumática para este leitor aqui que ele tratou de apagar da memória. 

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